Agradecimento ao Prof. Almir

A equipe da E.E. Prof. Morais Pacheco, agradece o professor Almir que gentilmente criou este blog.

6 comentários:

ZERROBERTO disse...

JOSÉ ROBERTO DOS SANTOS – ZEZO


E O

CINQÜENTENÁRIO (50º) ANIVERSÁRIO DO GINÁSIO BELA VISTA






























Autor Original: José Roberto dos Santos - Zezo


PRIMÍCIAS E PRIMORES DO BELA VISTA

Non scholae sed vitae discimus

São pequenos contos de minha memória, de nossas histórias idas e vividas neste Ginásio abençoado por Deus em épocas que não existiam as comunicações modernas, computador, televisão; e por lá nem telefone havia. Vivíamos isolados do mundo, apenas vivendo e aproveitando o nosso, que era real, mágico, descontraído, alegre.

Éramos puros de coração, na intenção; as artes, artimanhas, um pouco de maldade surgiam do espontâneo da oportunidade, mas nunca feríamos a alguém, salvo sempre nós mesmos. Então não precisamos esconder nomes ou alguma ficção estórica. Fatos são fatos e a nossa história é amalgamada à dos primórdios deste Ginásio encantado.

Quando estudei no Grupo, no Torquato Minhoto, ouvi de minha doce professorinha que um homem nesta terra, para se realizar, precisava ter filhos, plantar uma árvore e escrever um livro. Tive os primeiros, plantei os segundos e tento escrever essas primícias do terceiro. Estou, então, tentando nessa última etapa de minha existência, não escrevendo um livro propriamente dito, mas escritas, não de Aires, que podem ser lidas e sentidas. Palavras, ao vento flutuam, mas a grafia permanece .

Não é Homero, Dante, Virgílio, Proust, Machado, mas utilizei-me da mesma ferramenta que eles: nossa memória. Espero que pelo menos uma leitora possa gostar delas; pena que mamãe não esteja mais entre nós para aprová-las.

Meus anos dourados, prateados, aluminados, acobreados e plumbeados desta minha fragmentaa existência foram neste Ginásio, dos meus deuses e deusas; se feliz ou infelizmente tive só sucessos ao longo da minha história, após deixá-lo, eles são efêmeros e não transportam História. Historia magistra vitae est. Assim estava escrito no genitivo em latim, de Vandick, nosso livro do célebre professor Iuliano: “A História é a mestra da vida”. Sem comentários.

Ah! Poderei mentir, errar, falsear a verdade, mas a culpa será estritamente de minha Memória. Se ela falhar, culpem-na, e me perdoem. Eu somente faço a sua escrita, e que será somente esta, o meu trabalho de ex-aluno. Ouço, apesar de um defeito no nervo auditivo, sua voz e, mediante meu diploma de datilógrafo, apenas redijo o texto, que vem lá de dentro em alto gráu, rápida, veloz, fugitiva, transitiva e satírica; assaz fugaz e mordaz.

Dedico essas escritas aos meus antigos abnegados mestres do Ginásio Bela Vista; sem nenhuma pretensão, se for possível, e se eles me acolherem, também aos atuais professores e alunos do Ginásio Morais Pacheco, para que os primeiros se transformem em mestres e os segundos em discípulos da verdade e da honestidade, base de toda nossa formação recebida daquele admirável, e primoroso mundo novo, ainda sem Huxley, que era o Bela Vista.

ZERROBERTO disse...

ZÉRROBERTO E O CINQÜENTENÁRIO DO MEU QUERIDO E AMADO

GINÁSIO ESTADUAL DA BELA VISTA


Um dia olhando um pedido de comparência, que caíra da minha estante velha, no chão, ao acaso, de antigos Licenciandos do Ginásio Estadual Professor Morais Pacheco, e que nascera tão somente Ginásio da Bela Vista, - quando aí fomos os primeiros meninos a fundá-lo, pois éramos o Objeto (como aluno dos professores), Objetivo (nossa educação e satisfação da direção) e finalmente Discípulos (regozijo dos mestres) deste solene Ginásio - uma singela frase chamou-me atenção, uma vez que não me diplomei com esses formandos e nem neste querido e amado Ginásio:


“Nunca poderemos ser suficientemente gratos a Deus, a nossos Pais e a nossos Mestres”


Acho que Aristóteles gostaria de ter idealizado esta frase, e até dado a vida por ela, tamanha a sabedoria deste Ginásio que foi minha “sedes sapientia”

ZERROBERTO disse...

O Moço e seus problemas

Tudo começa numa sala de aula, localizada no fim de um corredor de um ginásio, quase em frente à sala da temível diretoria. Dentro da referida sala, dando aula, uma professorinha linda, que usava óculos escuros, acho que de gráu, roupas fantasticamente decentes, uma saia compridíssima para nossos gostos, atingindo quase o tornozelo, não dando a mínima chance de ver se dentro delas existam peças torneadas iguais às do Parthenon na Grécia, tipo escocesa, uma blusa de mangas compridas bem fechadas, ocultando seus preciosos e doces bracinhos. Ministra um curso de História das Américas para uma turma de alunos “babões de fraldas” e um ou outro “veterano” escolar.

Como minha memória está falha quanto à posição da diretoria, que freqüentamos a pedido e rogo de professores e inspetor, inúmeras vezes, esta poderia estar na mesma posição, só que no andar superior do edifício. Aquela jovem e graciosa professorinha parecia muito sensual para a minha idade de 14 anos. Na classe, a zoeira era geral. Meu companheiro Zérroberto havia arrumado um livro para adolescentes “O moço e seus problemas”, que versava sobre comportamento sexual ou coisa parecida, só me lembro de ver as gravuras das páginas do livro, nem me lembro do que estava escrito. A molecada, em início de adolescencia estava toda “ouriçada”. O João Carlos, Carequinha, o Ariovaldo, o Nenê, eu e um monte de colegas de classe.

Era a novidade, um livro sobre problemas dos moços, e nós já acreditávamos piamente que éramos. Havia somente uma pequena e atroz duvidazinha, será que éramos mesmo moços? Nunca havíamos visto ou lido coisa parecida. A professorinha, objeto de desejo de pureza de toda aquela garotada, vai até a carteira de Zérroberto, aperta-lhe o queixo e ele mostra um sorriso maroto metade amarelo-esbranquiçado e metade branco-acizentado na sua bochecha meio prateada-avermelhada, com aqueles olhos claros marrons-esverdeados, naquele rosto de cor cinza grafitado, naquele instante cor de palha e champagne e cabelos consistentes escuros encaracolados. Ela, com olhar aguçado, de todos os antigos mestres, cabelos negros em disposição de “rabo de cavalo”, que era a moda da época das jovens ainda não rebeldes e nem transviadas, olha o livro, olha prá ele, sorri, como se fosse uma irmã mais velha sorrindo para um irmãozinho mais novo; não vê nada de mais. Era realmente um livro de educação sexual. Ela comenta na classe a situação em que nos encontramos, naquela ultra feroz adolescência. Nada de mais.

A turma ficou mais ouriçada ainda, não pelo livro, nem pelo comentário, mas pelas palavras lânguidas proferidas pela boca sensual de lábios cor de botão de rosa e batom vermelho-tangerina daquela super-híper-sensualíssima professorinha, que provavelmente nos devaneamos no céu sobre ela em nossos puros sonhos de criança. Na verdade nada me lembro, mas posso supor perfeitamente, uma vez que me conhecia e a todos aqueles musculosos machinhos de 13 anos. Carequinha, acho que tinha 11 e estava fazendo 12 naqueles meses iniciais do semestre. Brilhante aluno precoce.

De educação sexual, nada sabíamos, mas de sexo, este apenas ouvimos falar somente na língua portuguesa do gênero da palavra. Nunca tive um livro sobre o assunto, nunca ouvi de meus pais qualquer alusão a esse fato singelo da criação da humanidade; éramos virgens de ensinamentos sexuais.

Adendo ao texto: Nunca tivemos dúvida sexual, pois nunca soubemos o que era isso. Sabíamos que possuíamos aquele órgão genital. Já havíamos vistos caninos, caprinos , bovinos e até aves terrestres copularem, mas a figura materna impedia-nos de imaginações férteis a respeito do vuluptuoso assunto, ou pelo menos a minha. Não se iludam, nunca fui santinho, mas coroinha, e nem depois santo, mas congregado Mariano, e nem tinha propenções ao celibato, mas casar com todas mocinhas da Bela Vista; somente que, não tive oportunidades do aprendizado tanto da educação sexual, como experiências do aprendizado com as doces menininhas do sexo oposto. Fora isso, o que somente está escrito, voces podem fazer qualquer alusão do assunto a mim que decididamente estarão corretos, sem dúvida nenhuma. Tive que confessar, pecados que nunca cometi, inúmeras vezes ao pároco local. Que azar o meu ! Nada de meninas e um confiteor na minha alma; tinha que dizer entre tantas frases uma que não guardei na memória: “No Tribunal da Penitência, porém, espero encontrar a tábua, que me salvará do naufrágio da culpa”. Senhores da religião, me perdoem, mas fazer um doce e puro menino dizer tais frases, acabo nem tendo palavras para condenar esse fato que já é histórico de minha parte.

Que a nossa Professorinha tenha sido feliz em sua juventude, e que a sua senilidade tenha sido composta de amor e carinho de uma família verdadeira. Infelizmente nunca mais a ví, nesta curta e parca existência de minha vida, mas seu rosto e seu sorriso permanecem ainda intactos em minha mente febril nesta manhã de primavera.

ZERROBERTO disse...

UMA GRANDE EMOÇÃO TOMA-ME MEU CÉREBRO E MEU CORAÇÃO AO ESCREVER NESTE BLOG DESTE GINÁSIO DE MINHA VIDA, AQUI NESTE MOMENTO NAS MONTANHAS DE MINAS GERAIS, ONDE CHOVE TORRENCIALMENTE NUMA MANHÃ DE CARNAVAL.
PROFESSOR ALMIR O SENHOR SERÁ CONSIDERADO AGORA MEU MESTRE, E MEUS AGRADECIMENTOS NÃO TÊM PALAVRAS. FICA MEU SILÊNCIO, POIS MEU CORAÇÃO NÃO TEM VOZ E A MINHA MENTE NÃO FALA.

ZERROBERTO disse...

Labor ominia vincit – Convite

O convite da parte introdutória destas primícias foi achado, ao acaso, no meio de inúmeros papéis e livros velhos que vieram da casa dos meus pais há mais de vinte anos e que estavam dentro de um baú, que viera da Itália, no século XIX, com meu querido avô ( que não conheci). Após (eu, não meu avô) deixar uma vida laboriosa na grande metrópole paulista, refugiei-me no meu sítio na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais.

O motivo do encontro fora que esses papéis estando numa quartinho isolado e abandonado da minha casa velha, aqui do sítio, ao me mudar para a casa nova, acabei transferindo tudo que eu tinha, e junto da mudança, escondido no meio de um monte de tralhas, ao colocar numa estante de peroba rosa, que fora feita pelo João e o Pedro Ciniciato, em Bauru, lá defronte a Igreja de Santo Antônio, na rua de mesmo nome, que vai em direção ao Ginásio Bela Vista, alguns papéis cairam ao chão, e dentre eles vi aquele convite. Pensara em queimar toda aquela papelada amarela, pois o cheiro de môfo do papel velho estava dando-me alergia, quando me defrontei então com este enigmático e emblemático convite de formatura. Abri-o e aqueles nomes de professores e alunos, dos quais conhecia muitos e alguns em demasia, e que um dia também foram meus companheiros de classe de aula, em anos passados, ao do qual se formavam, e que provavelmente então haviam repetido de ano, bateu-me uma saudade melancólica e comecei a recordar-me de minha vida passada, talvez mais, algumas vidas passadas, neste augusto e memorável Ginásio do meu coração.

Lá daquele baú, como da estante, como do baú e da estante do meu coração, vi minhas carteirinhas (cadernetas) escolares, meus trabalhos manuais, cadernos de matemática, desenho geométrico, livros de história, geografia, ciências naturais, português e os famosos livros de Oswaldo Sangiorgi, base de minha cultura matemática.

Ao pegar em cada um daqueles papéis amarelados pelo tempo, cada qual me fez voltar à querida escola com seus atos, atores, ações e coadjuvantes vividos.

Cansei-me de ver aquelas pegadas fossilizadas pelo tempo e fui deitar-me em meu novo quarto. Não consegui pegar no sono, por aquelas fotografias frias, amareladas. Neste quarto, estou semi-acordado com uma pequena luz emitida por um abat-jour lilás; é de pergaminho egipcio de cor bege, perfurado com estrelinhas, as quais o foco de luz imprime uma figura estelar na parede, igual a de minha casa na rua Padre Nóbrega, palco de minha moradia, quando aluno do Bela Vista. Essas estrelinhas devem estar até hoje naquela veneziana, na sua parte superior (travessa acima das palhetas) feita pelo meu tio Antônio, lá naquela nobre casa, no quarto da frente para a rua. Quando criança nas manhãzinhas de domingo, ao acordar, saia do meu gracioso quarto e ia ao quarto, ainda escuro, que era dos meus pais, contemplar o nascer do sol atraves deste filme fotográfico da estrela feito pelo sol entrando pela fresta estelar e se projetando na parede contrária a da janela.

De repente, aqui e agora, o filme fotográfico passa a filme movimentado e colorido em meu cérebro nervoso. A Memória começa a jorrar toda uma verdade histórica que a minha mente não consegue mais se conter em não revelar a alguém, como se fosse uma confissão de extrema-unção. Passei a escreve-la desmesuradamente, que é isso que voces vão ver nessas primícias, sem malícias, da maneira como as imprimí (lá no passado) em meu cérebro há 50 anos atrás. O duro é que escrevo deitado na cama em um caderno antigo, e rápido. Demorarei muito, mas muito mais tempo para depois entender o que aqui está escrito para datilografar, do que o tempo gasto para escrever, se porventura entender os “garranchos” que ora escrevo.

Não sou historiador, mas também não sou de história, tenho apenas a sensibilidade de historiar . Aqui, além de utilizar o verbo historiar no sentido real, tento ser o complemento dele no sentido figurado, ou seja, narro, conto, escrevo e atavio com pequenos ornatos. As construções são minhas, as definições, da pátria mãe da língua, tanto dos povos iberos, o bizarro dos bascos, como seu dominator no início da era cristã, como posteriormente a guerra dos germânicos e o azul dos árabes.

Ah! Senhores, não sou do tempo atual do Aurélio e nem do computador, mas dos dicionários das pátrias mães da língua, de Rodrigo Fontinha e do Padre H. Koehler S. J., cuja velhice e cheiro de môfo me provocam uma rinite alérgica, que serei obrigado a consultar um doutor em rino-laringologia. Num dos pósfácio, do Fontinha, se por acaso já ouviram falar disso, e dele, tem uma frase mortal de todo obstinado em realizar seu trabalho: “Labor omnia vincit!” . Tentarei realizar o meu.

ZERROBERTO disse...

Uniforme cáqui

Frequentávamos o ginásio Bela Vista, trajávamos uma calça de brim caqui, camisa branca e um paletó normal também em cor caqui. Meu Deus, eu detestava aquele paletó, mostrava uma ridicularidade, e uma vergonha para mim, quando o usava fora do ginásio. Representava de fato que era pobre, não tinha um paletó (estou escrevendo paletó com “e” pela língua, mas com “i” a palavra é mais bonita – “palitó”) de verdade, daqueles de casemira, tergal, ou um outro tecido que não me lembro mais, que seja. Mesmo indo ao ginásio com aquele paletó caqui, não me sentia bem. Acho porque os meninos do Instituto de Educação, ( do qual havia me transferido, nem sei porque, acho que meu pai fez uma “burrada” deixando-me fazer essa transferência; era um aluno exemplar lá) usavam uma calça bege, uma camisa de manga comprida também bege, e aqui está o segredo da vestimenta, uma gravata preta, que eu havia aprendido com Janey, um companheiro de artes (artimanhas) da Vila, a dar o famoso nó americano. Me sentia um príncipe em anos anteriores ao do ginásio Bela Vista, frequentando o Instituto. Ah! E tem mais. Não havia aquele “palitó” caqui, mas sim a blusa da cor que meus espíritos, minh’alma e até a minha memória remota, sempre gostaram: “azul-marinho”.

Trajando esta vestimenta (a do Instituto) na época de frio, com aquela gravata preta e aquela blusa azul-marinho, somente Paul Newman, galã norte-americano da época, se igualava a mim. Ainda estava descobrindo Elvis, que aí a coisa ia mudar para as famosas calças rancheiras azuis, com camisas brancas e cabelos esvoaçantes com topete rebelde. O sapato, era na verdade um sapatinho mocassim. E não tinha dinheiro para me vestir assim. Invejava o Jonas, irmão do Jefferson (“Cheiroso” apelido dado por Zérroberto, ou pelo Pio, do Bar do Pio), que era mais velho que nós, mas que trabalhava e podia comprar essas roupas rancheiras. Isso, quando ele não se vestia totalmente de preto, camisas pretas, calças pretas, meias pretas e e é claro sapatos pretos. Ou será que era ainda um outro irmão mais velho que ele, ou ainda mais, um namorado da irmã dele, que era lindíssima, acho que uns 3 ou 4 anos mais velha que nós, estando lá pelos seus 17 anos, e nós com insignificantes, meros e ralos 14 anos.

Guardo hoje na memória, eu, minha imagem, com aqueles trajes caquis, porém totalmente feliz e alegre, uma vez que acabei aceitando-o, com carinho e devoção, depois que de lá me fui.

E hoje, ao ouvir Iorrânes Brâmis (Joahnnes Brahms), numa destas sinfonias imortais, nesta manhã de verão ensolarado, transporto-me para dentro deste uniforme e sorrio para minha doce mãezinha, que me adorava, costurava, lavava e passava este sesqui-secular uniforme dos meus semi-deuses do Bela Vista.